21
Out
Arno Schneider
Recentemente fomos surpreendidos por um editorial da Folha de São Paulo afirmando que a principal contribuição brasileira para a poluição climática vem do desmatamento, agricultura e pecuária. Inacreditável uma afirmativa como esta.
Há algumas décadas, os desmatamentos representavam uma boa parcela das emissões. Atualmente, embora sejam anunciadas mensalmente recordes nos desmatamentos, esta quantidade não é suficiente para configurar uma proximidade em relação a outras emissões.
Além do mais, as principais causas das ofensas à Floresta Amazônica e outros biomas, como garimpos, extração de madeira e desmatamentos ilegais, não podem e não devem ser atribuídas ao agro.
Quanto à agricultura, graças às pesquisas e competência do nosso agricultor, temos a mais eficiente produção de alimentos tropical do planeta. O plantio direto, quase unanimidade na produção brasileira de grãos e algodão, é sinônimo de economia de combustível, produtividade, proteção, enriquecimento e carbonização do solo e consequentemente sustentabilidade ambiental.
A evolução tecnológica do agro brasileiro é um sucesso constante e deveria ser aplaudida e incentivada por todos os ambientalistas. Na pecuária, é um pouco diferente. Sempre levamos pedradas de celebridades, ONGs ambientais e dos próprios cientistas do Painel do Clima.
O metano arrotado pelos bovinos que se constitui na principal causa das emissões ainda não é considerado como um gás de vida curta. A própria ciência está nos alertando que estamos utilizando uma métrica inadequada para o cálculo das emissões pecuárias.
O Painel do Clima nunca divulgou em seus relatórios que o metano é um gás cuja estabilidade na atmosfera é somente de dez anos. Recomendam para o cálculo das emissões, um índice chamado GWP – 100 que considera o metano como sendo ativo por 100 anos.
O rebanho bovino está estável. Sem gado adicional também não haverá emissão adicional de metano na atmosfera por culpa dos ruminantes. Aquilo que foi emitido esse ano, apenas ocupou o espaço do metano emitido dez anos atrás. Estes dois fatos, incontestáveis: duração de dez anos na atmosfera e rebanho estável, configuram com toda a lógica uma condição de neutralidade nas emissões bovinas.
Não sou só eu que estou questionando essas métricas. Alexandre Berndt especialista da Embrapa em gases de ação climática confirmou que o Painel do Clima já está sendo questionado para modificar este sistema de cálculo.
Em recente pronunciamento o departamento de ciências da Universidade da Califórnia e uma ONG ambiental americana estão juntando argumentos científicos considerando equivocada essa métrica atual.
A evolução tecnológica da pecuária, paralelamente, já está achando soluções que reduzam estas emissões ou aumentem os sequestros. Recente, publicação de uma pesquisa da Embrapa confirma que pastagens reformadas e produtivas resultam em saldo positivo nas emissões. Os ionóforos (aditivos do sal e ração) reduzem em 15% as emissões de metano pela modificação da flora ruminal.
Uma nova geração de ionóforos, promete 70% de redução nas emissões. Confinamentos agem duplamente, tanto na redução da idade do abate, como na redução da necessidade de ruminação.
A nossa neutralidade nas emissões da pecuária já existe. Vamos agora perseguir a meta Carne Carbono Zero. Posto isto, não concordamos com a Folha ou de outros veículos de comunicação, que ainda atribui as principais emissões de GEE brasileiras ao agro. Nós avançamos e merecemos respeito.
Arno Schneider, engenheiro agrônomo, pecuarista e membro da Associação dos Criadores de Nelore de MT (ACNMT)